quinta-feira, 14 de maio de 2009

Zeno Wilde

Wilde, Zeno (1947 - 1988)

Zeno Wilde Mendonça (Aquidauana MS 1947 - São Paulo SP 1998). Autor. Dramaturgo conhecido pelas incursões junto aos temas ligados à marginalidade. Após formar-se pela Escola de Arte Dramática, EAD, lança em 1980 seu primeiro e mais popular texto: Blue Jeans, abordando a vida de garotos de programa, texto encenado em várias montagens pelas capitais brasileiras e numa versão musical, realizada em 1991, pelo diretor Wolf Maya. Em 1984, cria O Meu Guri, sobre o tema proposto por Chico Buarque. Sua preocupação com os marginalizados volta em 1986, num espetáculo dirigido por Fauzi Arap, denominado Uma Lição Longe Demais, sobre os conflitos entre uma professora e seus alunos na periferia de São Paulo. O desempenho comovente de Gabriela Rabello torna a realização extremamente comunicativa com o público. Impacto artístico que se traduz em alguns expressivos prêmios. O crítico Alberto Guzik fala sobre a peça: "Escrita com secura e objetividade, dotada de diálogos afiados, levando para o palco personagens observados com cuidado e desenhados de modo consistente, Uma Lição supera o nível do drama e atinge em muitas passagens o cume da tragédia".1
Anjos da Guarda, de 1987, e Quem Te Fez Saber Que Estavas Nu, de 1989, são novas incursões sobre este universo de marginalizados que tanto fascina o autor. A jornalista Marici Salomão escreve: "Anjos de Guarda é um soco em um ato e 60 minutos. Uma jovem psicóloga da Febem, Nira, entra num casarão abandonado na periferia de São Paulo onde se esconde o menor fugitivo Gabriel, de 17 anos por quem está apaixonada. Foi guiada por Fumaça, menor com passagem na polícia e colega de Gabriel. Bem-intencionada, ingênua e amante, a moça acredita que pode convencer Gabriel a se render. Gabriel confessa ter sido protegido, já na saída da instituição, por um traficante que lhe garantirá a subsistência nas ruas. Uma enorme tensão pontua o espetáculo do início ao fim. A peça transcorre em tempo real, sob total suspense, na transição do dia para a noite".2 O ambiente da prostituição masculina ressurge em 1992, através de Olhos Cor de Mel, de James Dean, encenada por ele próprio. Mesmo ano em que cria, sobre a vida de Assis Valente, um interessante musical que mescla a vida e a obra do compositor carioca: Salve o Prazer!
Nos anos subseqüentes surgem novas criações, destinadas a pequenos elencos e novamente centradas sobre personagens à margem da sociedade: Uma Canção Desesperada e Exagerei no Rímel, ambas de 1993, e Zero de Conduta, em 1994. Dois anos após, debruça-se sobre a obra Baal, de Bertolt Brecht, produzindo uma versão livre e adaptada ao clima brasileiro. Inspirado pela vida e obra de Pasolini, cineasta italiano, escreve e encena Pasolini - A Segunda Morte de Pedro e Paulo, em 1996, mesmo ano em que ganha o Prêmio Estímulo de Dramartugia, por Verona - Ruptura e Sonho, sua última peça.
Para a televisão colabora no texto das novelas As Pupilas do Sr. Reitor, em 1995; Razão de Viver, em 1996, e Mandacaru, em 1997.
Sobre o dramaturgo, pronuncia-se o autor e diretor Fauzi Arap:. "Zeno era um trabalhador do teatro. Era um belo dramaturgo, que estudava muito. E o último espetáculo dele, Pasolini, foi a sua melhor direção. Algumas peças devem permanecer. Outras devem ainda ser descobertas, como Salve o Prazer, um musical sobre Assis Valente".3
Alberto Guzik analisa: "Dramaturgo que levou excluídos, miseráveis, malditos e marginais para a cena, o aquidauanense Zeno Wilde deixou uma obra que dialoga com a de seu contemporâneo, o santista Plínio Marcos. Embora tivessem impulsos distintos, que caracterizavam e definiam seus universos teatrais - Wilde lançou seu olhar principalmente para crianças e adolescentes de rua, Marcos para prostitutas, mendigos, presidiários, biscateiros... -, os dois partilharam temas, um lirismo desencantado, a indignação".4
Notas

1. GUZIK, Alberto. Anjos da Guarda Pede Mais Ação. São Paulo, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 9 de novembro de 2001.

2. SALOMÃO, Marici. Um Soco em um Ato e 60 minutos. São Paulo, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 6 de outubro de 2001.

3. ARAP, Fauzi. Depoimento sobre Zeno Wilde. In: SÁ, Nelson de . Zeno Wilde. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 dez. 1998. p. 3-4.

4. GUZIK, Alberto. Anjos da Guarda Pede Mais Ação. São Paulo, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 9 de novembro de 2001.
FONTE: Enciclopédia Teatral do Instituto Itaú Cultural (http://itaucultural.org.br)

Um comentário:

  1. Ótima postagem.
    Só uma correção: Zeno Wilde, faleceu em 1998 ao invés de 1988.

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